quinta-feira, 27 de maio de 2010

OK, hoje é o Dia Internacional da Biodiversidade… e?

por Marcio de Almeida Bueno

Então hoje, 22 de maio de 2010, é o Dia da Biodiversidade, dentro do Ano Internacional da Biodiversidade, esquema da ONU e afins. Tal termo virou clichê, como 'sustentabilidade', 'ecologia', 'bem-estar animal', 'responsabilide social', 'ética na política' e outras palavras-chave-171. A maioria repete sem saber nem aplicar no dia a dia.

Que conversa é essa de biodiversidade, se a vida no planeta é mero parafuso na máquina insana no extrativismo, mascarada por outro clichê, 'desenvolvimento'. Os animais entram como ingrediente no fordismo da indústria, engrenagens azeitadas a dor e argolas no pescoço, para que uma outra espécie, a humana, autointitulada dona das escrituras do mando, tenha um supermercado colorido e variado. Se os animais foram retirados a fórceps da natureza, que biodiversidade de museu é a que vemos agora? Um habitat derrubado, queimado, terraplanado e pavimentado, onde os animais silvestres tornam-se fantasmas ou, em caso de desproporção entre quantidade e espaço, motivo para justificar a caça.

Enquanto isso, temos a pecuária usando aquelas cartolas de ilusionista, com uma espiral que gira, hipnotizando quem a olha. Cabeças de gado em maior número que a população humana, pisoteando o que seria o espaço de vida para outros animais – estes, por nao serem 'de serventia', não passaram pelo processo de captura, seleção e cruzamento durante séculos, inseminação, multiplicação, cotação no mercado, incentivo público, apoio moral da população-autômata etc. Segundo o sonho dessa gente, só haveria grama pros bois comerem e alface pra acompanhar o churrasco de domingo. Mesmo que não admitam.

Quem acha a preocupação ética com os animais uma grande bobagem de quem não tem o que fazer, dirija-se a um matadouro – não, não precisa entrar. Dê a volta e procure a saída de dejetos. Se lhe parecer adequado um esgoto de água suja de sangue e resíduos de vísceras, significa que você não está preocupado nem com a água que bebe, e aí é uma opinião um tanto comprometida para ser pesada.

Se a substituição do couro por materiais não animais lhe parece algo em que só os xiitas veganos pensam, dirija-se a um curtume – não, não precisa entrar. Dê a volta e procure a saída de dejetos, lembrando de tapar o nariz. Se lhe parecer adequado um processo industrial tão poluente, fedido e que joga na natureza – perdão, já não há tanta 'natureza' assim disponível – ou melhor, nos centros urbanos, tantos resíduos tóxicos, é porque você não está preocupado com o ar que respira nem com a água que bebe, e nem mesmo com os aliementos consumidos. É uma opinião etc.

Então há muito que a biodiversidade deixou de ser o panda dando tchauzinho pros turistas, fagocitando milhões de animais que nasceram já zumbis, com data de validade e hora certa para morrer, ansiosamente aguardados pelas donas de casa que precisam fazer almoço para a família.

Paradoxalmente, essa produção que reza o evangelho do especismo está esfolando aos poucos as salvaguardas da sobrevivência de todos – inclusive de quem não concorda com ela. É carne com gosto de mato queimado, é leite dando arrependimento em quem acaba de ganhar um carimbo de osteoporose do médico, é sapato de couro embarrado de tanto ter pisado nos outrora rios, é a dedada na próstata que cutuca até a consciência e o medo de morrer dos cidadãos mais respeitáveis.

No Ano da Biodiversidade, Dia da Biodiversidade, como explicar a cada boca que mastiga a dor dos animais, que paga pelas correntes sempre bem presas, que a vida não é uma palavra poética como 'esperança', 'nuvens', 'sentimento'. Ao contrário, para milhões de seres sencientes, hoje, é a única propriedade e bem de valor que carregam – e a mineração humana se encarrega de escavar tudo que brilhe a seus olhos, sem se importar com os buracos.

Vanguarda Abolicionista se faz presente na 4ª Feira da Biodiversidade

Foto: Marcio de Almeida Bueno

Nesta quinta-feira, 20 de maio, ocorreu mais uma Feira/Festa da Biodiversidade, reunindo quase uma centena de entidades de Porto Alegre ligadas ao meio ambiente e movimentos sociais. As atividades começaram ainda na segunda-feira, 17, com exibições de vídeos e e debates na UFRGS e no edifício da comunidade Utopia e Luta.

Fotos: Ellen Augusta Valer de Freitas

Durante toda a quinta, banquinhas ocuparam o Largio Glênio Peres, no coração do Centro da Capital, desde as 7h. A Vanguarda Abolicioista participou com um stand e farta distribuição de material. Panfletos, folderes, mini-posteres, buttons, adesivos, livros e cópias de artigos foram distribuídos aos interessados, que ao longo do dia eram atraídos pelos banners instalados no local.

O ativista Marcio de Almeida Bueno concedeu entrevista à Ecoagência, que deverá ir ao ar nos próximos dias, no programa dos Ecojornalistas na Rádio da Universidade. A nutricionista vegana Claudia Lulkin foi bastante requisitada, e esclareceu as dúvidas dos populares ou dos que questionavam o porquê dos materiais.

Foto: RSantini

Propostas como a libertação animal, o veganismo e o anti-especismo foram apresentandas pelos colaboradores da VAL ao público passante, que em sua maioria manifestava apoio à causa. Muitos foram os vegetarianos que visitaram a banquinha, desde jovens a um senhor aposentado de Florianópolis, que modificou seu estilo de vida já na Terceira Idade. Alguns poucos confessaram que problemas de saúde, juntamente com orientação médica, pesaram na hora de optar por uma alimentação vegetariana ou vegana.

Foto: Ellen Augusta Valer de Freitas

Vozes contrárias também compareceram, como um dono de abatedouro, que se dispôs a explicar aos ativistas os diferentes tipos de abate de gado – além de uma senhora que garantia que quem comprava um animal de estimação, acaba tratando melhor do que se tivesse adotado. Todos foram ouvidos e receberam esclarecimentos dos integrantes da VAL, para terem uma nova visão sobre suas, até então, certezas.

Foto: Marcio de Almeida Bueno

O dia correu com extensa programação de oficinas, encenações, danças, batucadas e trocas entre os parcitipantes. A Vanguarda Abolicionista foi convidada pela ONG Ingá a ministrar palestras sobre abolicionismo animal aos ambientalistas, e também trocou materiais e experiências com rastafaris veganos e anarcopunks. O evento seguiu noite adentro, e a festa de encerramento da semana acontece na noite de sábado para domingo no Parque da Harmonia – quando é comemorado o Dia da Biodiversidade, dentro do Ano Internacional da Biodiversidade.

Veja o vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=fAn7xEnNI1M.

Galeria de imagens

Fotos: RSantini




Fotos: Marcio de Almeida Bueno




Fotos: Ellen Augusta Valer de Freitas