domingo, 26 de setembro de 2010

Da liberdade aos animais ou 'hamster-correndo-em-uma-rodinha'

por Marcio de Almeida Bueno
26 de setembro de 2010

Se as pessoas têm plena dificuldade de compreender e vivenciar o conceito de liberdade, em suas próprias vidas, como ver a liberdade em seres que considera inferiores, os animais? Cada uma dessas pessoas aí fora, marchando pelo mundo na certeza de que realizou escolhas, dentro do fiapo de espaço que o sistema lhes permite, têm noção exata de que ser livre não significa quicar em paredes de condições e poréns? Gente que acha que escolheu alguma coisa na vida, apesar da carreira ter sido teleguiada pelos pais, a aparência pessoal pela moda vigente, a sexualidade pela pressão social, os 'favoritos' por indicação, a alimentação pela tradição, o voto político pela falta de opções melhores, a religião pela família ou pela proximidade geográfica, as opiniões pelas vozes mais altas que ouve, entre todos que falam.

Acostumado com o brete, o mundaréu de povo aí fora acha normal o animal escravo, o animal produto, o animal consolo, o animal serventia. 'Ah mas é bem tratado', resposta automática que mais ouço, um mantra cantado ad nauseam com sininhos de acompanhamento – justamente esse raciocínio que alguém teve, e o autômato ao lado achou razoável e incorporou a seu receituário de verdades. Sendo bem-tratado, OK, com a óbvia fiscalização onipresente-onisciente que alguém deve estar fazendo, não eu. Livre é tão distante porque esse sabor não lhe foi permitido, ou ainda só está sendo acenado para depois da morte, como uma bengala para tolerar a vida com a resignação que se faz necessária.

Aplicar esse bem maior que é a liberdade por sobre o lombo de um cavalo, cachorro, passarinho, porco, hamster ou galinha é visto como mais uma das excentricidades dos abolicionistas porque, no fundo do ralo, a vida de cidadão engessado incomoda aquele que resolve questionar os padrões. As promessas mágicas que a vida por si só parecia oferecer logo adiante, mas a passagem dos anos se revelou apenas um hamster-correndo-em-uma-rodinha, e esse afrouxar de cinto da liberdade vale tanto que não será para um porco que será atribuído, nem pro coelho que arde no laboratório, ou para o passarinho engaiolado que canta porque foi afastado da fêmea.

No corredor estreito que se permite correr, o populacho aí fora acredita que escolheu o programa de televisão, o prato do dia, o representante político, a cor do sapato, a marca de cigarro, a opinião firme sobre aborto / casamento homossexual / imposto sobre grandes fortunas / controle de natalidade / Deus / trabalho / Brasil / família / animais bem tratados ou não. No entanto, a ausência de leitura ou de conhecimento mais amplo sobre os assuntos não impede que a pessoa deite sua opinião em público, repetindo as palavras que ouviu do pai, ou que achou consistentes, ou que viu na TV algúem dizendo. Incapaz de sentir as próprias entranhas, de cuspir fora os embutidos morais que – voluntariamente – engole para não fazer feio aos demais.

Então se domado pela família, chicoteado pelo grupo social, marcado a ferro pela religião e cabresteado pelo chefe, este cidadão hipotético a quem me refiro vai ler como normal um animal que nasceu para o trabalho que não escolheu, sustentando terceiros. E que se tiver sorte, será bem tratado. Na sabedoria popular, na tradição oral passada adiante, o conformar-se com a própria situação está dentro das normas de etiqueta, do que se espera como razoável e sensato, para evitar transtornos 'ao vizinho'.

Não será um porco escravo, útil para o lucro de uma minoria acima dos demais – pagantes silenciosos, que vai sensibilizar essa maioria que reza o terço dos hamsters, volta após volta na rodinha.

www.vanguardaabolicionista.com.br

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Fotos: RSantini
congresso vegetariano
Muitos nomes conhecidos passaram pela banquinha da VAL

De 16 a 19 de setembro, a Vanguarda Abolicionista esteve participando do 3º Congresso Vegetariano Brasileiro, ocorrido em Porto Alegre. O stand do grupo acabou sendo o ponto de encontro e bate-papo dos maiores nomes do ativismo e pensadores da causa animal no Brasil, atraídos pela qualidade do material exposto e pela recepção fraternal.

Congresso Vegetariano
Público interessado e selecionado foi uma constante no stand do grupo

Nomes como George Guimarães do VEDDAS, Bianca Turano e Núzia Brum da SVB/Rio, Bruno Müller e Leon Denis da Sociedade Vegana, Silvana Andrade da ANDA, Alex Avancini do Vegan Staff, Anderson Reichow e Lúcia Badia dos DDA/Pelotas, Fábio de Oliveira da UFRJ / UNIRIO, Márcio Linck do Projeto ProAnimal, Cacá e Marcelle Nedel do ComPaTA, Gunther Filho da Sea Shepherd e todo o grupo paraense Vegetarianos em Movimento estiveram circulando pela banca da VAL durante os quatro dias do congresso. O público geral do evento também se fez presente de forma maciça junto aos integrantes da Vanguarda Abolicionista, adquirindo camisetas, adesivos, buttons e livros, solicitando amostras do farto material gratuito, trocando contatos, batendo fotos, oferecendo-se para participar das atividades do grupo ou apenas parando para confraternização.

congresso vegetariano
Troca de idéias e descontração fizeram parte da presença da Vanguarda Abolicionista no Congresso

A Vanguarda Abolicionista também participou da programação de palestras e oficinas do congresso, sempre filmadas para posterior divulgação. No sábado, 18 de setembro, às 9h, o membro-fundador da VAL, jornalista Marcio de Almeida Bueno, ministrou a palestra 'Comunicação de guerrilha, Jornalismo pé-na-porta e mantra-boca-suja: táticas e relato de cases', sobre ações práticas de comunicação viáveis ao interessado em se engajar na causa animal, para uma sala cheia.

congresso vegetariano
Jornalista apresentou ferramentas e táticas de Comunicação para a causa abolicionista animal

A palestra seguinte esteve a cargo de outro membro-fundador do grupo, a bióloga Ellen Augusta Valer de Freitas, que apresentou 'A defesa dos direitos animais na educação' para uma sala lotada.

congresso vegetariano brasileiro
Bióloga relatou suas experiências como educadora engajada

No dia 19, às 9h, houve a oficina de ativismo 'Vanguarda Abolicionista e o ativismo linha-de-frente', ministrada por Marcio de Almeida Bueno, que fez uma versão resumida da palestra do dia anterior, já que diversas pessoas não puderam assistir em função dos eventos simultâneos.

vanguarda abolicionista
Oficina da VAL reuniu ainda mais público para conhecer estratégias e casos em prol dos animais

Em seguida, a nutricionista Claudia Lulkin ministrou 'Magia Vegetal: o vegetarianismo mudando paradigmas pró saúde humana, animal e do planeta'. A ativista e culinarista Pris Machado apresentou a demonstração culinária 'Panquecas Recheadas & Cookies de Chocolate' – ela e Claudia Lulkin montaram um concorrido stand em frente ao da VAL, que também recepcionou famosos e anônimos que circularam pelo Congresso Vegetariano.

Claudia Lulkin
Nutricionista apresentou seu vasto arsenal de conhecimento e experiências

A socióloga Eliane Carmanim Lima apresentou a palestra 'Vegetarianismo – uma revolução cultural: evidências e implicações', os parceiros Carol & Leo, do restaurante Casa Verde, apresentaram a demonstração culinária 'Delícias veganas', e Alex Avancini, do Vegan Staff, mostrou o protesto da Vanguarda Abolicionista na última Expointer como parte de sua palestra.

vegan staff
Vanguarda foi citada em palestra proferida por ativista de São Paulo

Integrantes do grupo ainda foram entrevistados para o programa Sintonia da Terra, dos Ecojornalistas, e para um documentário sobre vegetarianismo produzido por Rachel Siqueira, a popular 'La Chica'. Houve jantar árabe na noite de domingo, 19, reunindo o VEM, do Pará, ComPaTA, de Passo Fundo, e a Vanguarda Abolicionista.